Eu era apenas um cão
Um cão normal, que não fazia mal a ninguém
Até que um dia fui torturado
Massacrado por alguém!
Foi a crueldade dos homens
Aqueles que dizem ser racionais
Cortaram-me as orelhas a sangue frio
E somos nós os animais?!
Eu era amigo, meiguinho e leal
Mas fiquei com medo do mundo
Porque senti uma dor infernal
Fiquei revoltado
Não deixei mais ninguém me tocar
Tornei-me desconfiado
Os meus dias passavam-se a tremer e a rosnar
Mas houve uma miúda
Que sentiu o meu sofrimento
Acolheu-me na sua casa
Tentou tratar-me até ao último momento
Ainda passeei, ainda fui ver o mar
As pessoas chamavam-me “urso”
Porque as minhas orelhas
Foram levadas, arrastadas com o ar
Mas ela gostava de mim
E entendia a minha situação
Eu precisava de carinho
Da bondade do seu coração!!
Mas ela não me fez esquecer
E mesmo querendo ser amigo
Eu tinha medo de sofrer…
O tempo foi passando
Fiquei sujo, perdi o resto da beleza
Caminhava muitas vezes
Mas tropeçava na tristeza
Chamava-me “Ritinho”
Sempre gostou de mim
Mesmo quando os outros diziam que eu metia nojo
Tratou de mim até ao fim
E para quem não entendeu
Que eu rosnava sem maldade
Pensem bem no que me fez
A chamada humanidade?!
Hoje foi o dia da minha morte
Agradeço às poucas pessoas pela bondade
Deste mundo levo uma dúvida
O que fiz para merecer tamanha crueldade?!
Susana Alves
(Publicado na Gazeta das Caldas em 1/07/05)
Incrível o poder da maldade humana. Por vezes ponho-me a pensar a razão de todo este sofrimento infligido naqueles que menos têm culpa por todos estes acontecimentos (maldades, guerras, …). Muitas vezes interrogo-me sobre a razão da nossa existência, visto que aquilo que melhor sabemos fazer é, sem sombra de dúvidas, infligir sofrimento, agonia, terror em todos os que nos rodeiam…